domingo, 13 de maio de 2012

EUCALIPTO - o mal que avança sobre o Sul da Bahia



Começaremos uma série de postagens (notas, artigos, teses, reportagens, etc.) que tratam de um perigo real: a CULTURA DO EUCALIPTO. Esse mal está avançando paulatinamente sobre algumas regiões do Brasil e, em outras, de forma acelerada. Neste blog, daremos ênfase ao que vem acontecendo nas áreas de atuação da S.O.S. Mangues e Vidas Aquáticas (clique aqui para ver as nossas áreas de atuação). Todavia, para sustentar a tese de que a cultura do eucalipto é um mal devastador para o meio ambiente, utilizaremos todos os exemplos que possam lançar luz sobre a verdade incontestável de que o plantio de eucalipto segue na contramão do desenvolvimento sustentável. Abaixo, para darmos a partida nesse combate, apresentamos o desabafo de um ex trabalhador terceirizado da Veracel, empresa que avança sobre a nossa Mata Atlântica, devastando e envenenando os nossos rios e nascentes.   

O desabafo indignado de um
ex trabalhador terceirizado da Veracel

Nelson Nedis Santos de Jesus

“A Veracel celulose é uma multinacional instalada no extremo sul da Bahia, situada no município de Eunápolis, às margens da BA 275. A Veracel celulose não é uma empresa que nasceu em 1995, como ela propaga; os seus primórdios remontam à Froníbal, uma transnacional que chegou aqui no extremo sul na década de setenta (1970) com um único objetivo: desmatar e obrigar os pequenos agricultores a saírem das suas terras, terras devolutas (da União).

Depois de atingir o seu objetivo de desmatar e erradicar a fauna e a flora, ela, a Froníbal, passou as suas “terras” para a Vale do Rio Doce, que teve como desenvolvimento a pecuária (criação de gado) a qual perdurou até a Veracruz Florestal. Essa nomenclatura – Veracruz Florestal – ficou até 1994, quando aparece com uma nomenclatura de Veracel celulose, isso em 1995. Essa nomenclaturas se estendeu desde a década de 1970, como uma forma de camuflar o seu intento maior e perverso, que era a incrementação do plantio do eucalipto nos municípios de Eunápolis, Crabália, Porto Seguro, Itagi Mirim, Belmonte, Itabela, Guaratinga, Itapebi.

A Veracruz (Veracel) desmatou e envenenou os rios e as nascentes, plantou em terras Indígenas, fez tudo isso em nome do “progresso”. Como progresso pode ser definido como desenvolvimento, a Veracel desenvolveu um deserto verde e cancerígeno, que paulatinamente erradicou a fauna e a flora. Hoje ela (Veracel) se ostenta da RPPN que tem aproximadamente umas 6.000 ha, mas que na realidade foram das outras nomenclaturas: Froníbal, Vale do Rio doce e Veracruz Florestal.

O que houve na bem verdade foi uma hierarquia fundiária perversa. A Vale do Rio Doce usava pistoleiros para matar pais e mães de famílias que não queriam sair de suas terras. Todo esse processo hierárquico tinha como único objetivo concentrar as terras para a monocultura do eucalipto.

No começo a Froníbal tentou a incrementação do pinho (o pinho é uma espécie de arvore exótica que na época foi trazida para o município de Porto Seguro e Crabália como experiência) para celulose. Hoje o pinho não existe mais, mas até os meados da década de 1990 eles ainda existiam, e indo para o Rio do Sul no município de Crabália, entrando em Zeca de Liliu havia um experimento.

O que mudava era as nomenclaturas, mas o racismo ambiental era e é o mesmo. A Veracel celulose vai além de agredir o meio ambiente, ela agride as pessoas. Hoje a empresa Veracel tem demitido seus funcionários que fazem parte dos movimentos sociais que reivindicam as terras devolutas que estão com a Veracel. Há casos em que a Veracel mandou empresas rescindirem contratos de trabalho com pequeno empreendedor só porque ele faz parte de um movimento social que tem uma repercussão a nível não somente de Brasl, mas de mundo, que é o MST…

Só para se ter uma ideia do racismo ambiental promovido pela Veracel, em 2011 houve algumas audiências sobre a ampliação da fabrica (a construção de outra fabrica). Várias pessoas que fazem parte dos movimentos, como eu, estiveram presentes para dizer o que essa empresa famigerada fez e o que pretende fazer com essa nova fabrica. Eu na época trabalhava em uma empresa que prestava serviço para a Veracel, e fui demitido. Na época sofri um acidente de trabalho na Plantar, empresa que mencionei anteriormente. Me submeti a duas intervenções cirúrgicas na coluna lombar e cervical com fixação de artefatos metálicos, e a empresa por mando da Veracel celulose me demitiu.

Hoje estou desempregado, e não há nenhuma perspectiva de que eu arrume emprego devido às sequelas pós cirúrgicas. Tenho ações trabalhistas contra a empresa Plantar S/A, mas como a nossa justiça é morosa - “morosa para julgar os processos contra as empresas que racistamente agem contra o cidadão”, cidadão desprovido dos seus direitos, direitos que o estado “democrático de direito” que é o Brasil lhe tira.

Como se não bastasse o racismo ambiental, usa-se uma outra forma de racismo, que é o racismo visual: a justiça fecha os olhos para tais atos cometidos pela Veracel. Daí o termo de que a justiça é cega é fato: a justiça é cega para ver os crimes cometidos por tal empresa, mas enxerga claramente quando é para beneficiá-la, como foi o caso do INEMA, quando concedeu a licença ambiental para a Veracel ampliar (construir sua nova fabrica), mesmo havendo uma série de irregularidades ambientais.

O racismo ambiental é uma prática bem definida em nossa região, mas não há um entendimento da sociedade a respeito, e os órgãos competentes não tratam o assunto com seriedade e humanismo. E igualmente o racismo visual.




Fonte: Racismo Ambiental (site consultado no dia 13/05/2012, às 12:35 h).

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